Parte das pesquisas eleitorais errou feio novamente, reforçando o discurso de que costuma criticá-las. Na teoria, eu acredito que o ideal seria não haver nenhuma pesquisa eleitoral, pois é notório que elas acabam influenciando eleitores, já que muitos ficam condicionados e optam por votar nos candidatos mais bem colocados. Afinal, brasileiro não gosta de votar em quem não tem chance de ganhar.
Desde o ano passado, os levantamentos de opinião martelavam que Lula e Bolsonaro estavam na frente, cristalizando na cabeça do eleitorado essa polarização. Se todos votassem no escuro, sem saber quem teria mais chance de ganhar, será que o resultado seria igual? Acredito que não e que aumentaria a chance de votos em outros candidatos. Por isso, nem Lula nem Bolsonaro podem reclamar das pesquisas, pois podem ter sido os mais beneficiados por elas.
Outro exemplo claro é que, graças às pesquisas divulgadas previamente, a Comandante Nádia (PP) desistiu de concorrer ao Senado alegando que não queria ser responsável pela eleição de Olívio Dutra (PT). Ela anunciou apoio em Mourão, o que pode ter feito com que parte de seus eleitores tenha migrado para apoiá-lo. Nádia tinha só 3% dos votos nas pesquisas, enquanto Olívio aparecia com 30%, Ana Amélia, 24%, e Mourão, 21%. Mas com a decisão, não só os eleitores de Nádia podem votado em Mourão. O anúncio feito por ela acendeu um sinal de alerta e pode ter mobilizado apoiadores do PP e eleitores de Ana Amélia, que partiram para um voto útil em Mourão. Resultado: ele venceu por 44,2%, contra 37,7% do petista, e 16,4% de Ana Amélia. Parte dessa divergência entre pesquisa e resultado também pode ter sido provocada por erro dos institutos, mas a maior chance é que tenha ocorrido o voto útil.
Apesar de criticar a possível interferência das pesquisas na decisão de votos do eleitor, vamos fazer uma reflexão e pensar como serão um pleito sem um levantamento prévio de intenção de votos. Imaginem o que ocorreria se o país ficasse durante toda a campanha eleitoral sem saber quem seriam os mais cotados para serem eleitos e que o resultado só fosse conhecido às 21h da noite das eleições. A falta de uma transparência por meses a fio poderia gerar uma desconfiança ainda maior nas urnas após a divulgação dos vencedores, e questionamentos bem mais virulentos contra o resultado. Candidatos com poucos votos poderiam ter mais argumentos para acusar de fraude nas urnas.
Em resumo: eu preferiria que não houvesse pesquisa eleitoral para proteger a eleição de influências externas. Mas será que proibir pesquisas não seria ainda pior? Acredito que sim. E num país democrático, seria incoerente proibi-las.
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